terça-feira, 1 de setembro de 2015

Onde se esconde a sensibilidade?

   Todo o dia é dia de correria: sai de casa correndo pra não perder o horário, sai do trabalho correndo pra chegar em casa porque passa o dia todo ansiando por este momento, e chega em casa e não faz nada... enfim, o dia se resume em fazer algo apressadamente para poder aproveitar outro momento. Mas e esse momento tedioso do dia, por que não o aproveita também? O dia se resume em aproximadamente 16 horas aproveitáveis, e você vai passar mais da metade dele  reclamando do que faz, que poderia estar fazendo o que maios gosta, que poderia estar relaxando?

    As cidades/estados/países estão perdendo sua identidade, ao passo que sua cultura e sua etnia eram bem definidas, hoje há um padrão que impera nesse mundo globalizado. E é um padrão pra tudo: língua, construções, roupas, costumes, culinária, etc.

   Imagine se uma pessoa qualquer for inserida em um lugar sem lhe dizerem onde é, e pergunta-se à ela: em que lugar você está? Ela supostamente não saberia dizer, salvo alguns vestígios que se for feita uma pesquisa minuciosa de detalhes culturais pelo local ela saberá, mas mesmo assim, se confundirá (principalmente se for num país multiétnico como o Brasil).

   O mundo está humanizado, mas mesmo humanizado ele perdeu um tanto da sua humanidade...confuso, não? E além do mais, um tanto de sua sensibilidade também, o que antes era cheio de coisas demoradas e bonitas (no caso de feitos humanos como construções e objetos), hoje dá espaço as fábricas, ao rápido, ao mais barato, e consequentemente (olha essa palavrinha aqui de novo) ao padrão.

   Recentemente assisti ao filme La Belle Verte, que é um lindo filme francês que trata de humanos que moravam em um dado planeta, e eles evoluíram a tal ponto que vivem em perfeita harmonia com a natureza. Curiosamente eles faziam excursões para outros planetas para observá-los e até melhorá-los em seu processo evolutivo. E à 200 anos  ninguém queria vir à Terra, e eis que um dia uma mulher decide se voluntariar. 

  Uma cena me instigou e ficará marcada em mim: quando essa mulher chega aqui, ela se choca com uma sociedade um tanto debilitada e um mundo sem muita natureza, muito humanizado (pois o lugar que ela chega é bem no centro de Paris.) Humanizado de tal forma, que quando pisa no chão o estranha, porque não sente a terra, a grama, o que sente é apenas cimento e piche. Me peguei caminhando um dia desses no centro da minha cidade e pensei em como seria estar no lugar dessa mulher, olhei o chão sem muita natureza, coberta por uma espessa camada de cores frias e tristes, e me deparei com um sentimento de vazio, de pisar em algo um tanto que surreal, e é claro,  literalmente não o sentir, pois o pisei com calçado.

   E não somente em coisas grandes, mas principalmente em coisas pequenas que a sensibilidade humana está se perdendo. Mesmo em uma cidade sem muita natureza, o pouco de natureza que há já causa muita admiração principalmente para os sensitivos, mas não precisa ser sensitivo pra notar que tem uma bela árvore florida no meio do caminho. O problema como citei no início, é a pressa e a preocupação com coisas distantes, isso nos tira do agora de tal maneira que quando passamos por algo simples e belo, nem o notamos.

   As pessoas estão muito antenadas e um tanto alienadas na tecnologia. Você tropica e BUUUM! Olha ali um adolescente com um celular mais "modafoca" que seu. E o que ele faz com ele? Só tira fotos do seu umbiguinho em fase de puberdade. E não é somente os adolescentes não, o quanto eu vejo de jovens da minha idade e até mais velhos, principalmente mulheres (porque mulher gosta muito mais de tirar selfies suas, mais do que os homens) tirando umas 500 fotos de si mesma: "Eu a 180° para leste, eu a 180° para oeste com vento, eu a 45° ao sul com sol no rosto", e blá blá blá.

   Me decepciono um pouco quando vejo um amigo e/ou conhecido que tem um perfil no Instagram e me deparo com um book de selfies incrivelmente idênticas. Tudo bem que cada um tem sua conta e faz o que quiser com ela, mas isso chega a ser monótono e cliché.

   Temos nossa rotina e correria diária, mas nada mais gostoso e prazeroso do que parar um pouco dela e reparar em lugares e coisas inusitadas, coisas que são um tanto esquecidas por nós: sentir a brisa fresca de um anoitecer, observar o por do sol quando não tem muitas nuvens, sentir o cheirinho de chuva ao cair sobre a terra, observar o brilho da lua e das estrelas, ver aquela flor e/ou árvore no jardim alheio, enfim, admirar e agradecer tanta coisa bonita que temos!

   Um dia desses estive caminhando pela minha cidade e me deparei com um senhor simples que estava com um saco cheio de latinhas, aí o cumprimentei com um simples bom dia, e a resposta que tive foi nada mais que um animado bom dia com um singelo sorriso no rosto.  Logo após, fui em um estabelecimento rotineiro, que vou todos os dias à trabalho, e cumprimentei com um bom dia (como faço todas as manhãs) uma pessoa de lá, e ela me respondeu com um monótono e entediado bom dia.

   Um bom dia deveria ser regra, nada mais gostoso do que começar o dia e receber desejos de bom dia, mas não o fazem regularmente... como se tivéssemos vivendo em meio à desconhecidos a todo o momento. E isso estristesse um pouco, pois muitas pessoas conhecidas passam por nós e nem reparam, e alguns sequer se dão ao trabalho de cumprimentar, muito menos parar pra conversar.

   Dê mais valor à natureza, as pequenas coisas, as pessoas simples, ao gestos, as gentilezas, e principalmente: seja gentil. Não deixe que sua humanidade e sensibilidade se percam por aí... pois dos valores humanos, eles são uns dos mais importantes e bonitos.

   
    
    
   

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