Nasceu um monstrinho humano, ou melhor, o cuti cuti coisa fofa da mamãe. Até os primeiros meses de vida, seu cuidado não é uma tarefa tão complicada, visto que seu cérebro ainda não evoluiu completamente, e seus instintos são bem animais: comer, dormir e defecar.
Logo o filhote de humano aprende suas primeiras palavras e consegue dar seus primeiros passos, o que é um grande passo na sua evolução como indivíduo. Mas esse serzinho é muito esperto, observador e curioso. Enquanto você faz algo, você não percebe que está sendo observado lá de baixo, isso mesmo, o indefeso bebê está juntando aos poucos as peças pra tentar entender o lugar em que foi inserido e as pessoas ao seu redor.
Ele aprende desde cedo que chorar consegue algo, mas o que de início era linguagem "bebezal" para avisar que está com fome ou qualquer outra coisa, evolui a uma chantagem emocional. Você pode ver isso diariamente, mesmo não convivendo com crianças pequenas, em estabelecimentos comerciais.
Pais e criança vão a uma loja de brinquedos e os pais pedem que a criança escolha o brinquedo mais barato, mas como o mais barato não é o mais legal, ele escolhe um dos mais caros. Como de praxe, eles tentam convencer o serzinho a escolher outro, e como de praxe também, sua engrenagem vai funcionando e apela ao choro escandalosamente irritável e ensurdecedor, que de imediato convence os pais a levar o maldito brinquedo.
"No meeeeu tempo", como diriam nossos familiares mais velhos, era diferente. Meus pais não tinham condições de comprar brinquedos mais caros, e raramente eu escolhia, ganhava e pronto. Não havia chororô e depois ganhar o que queria, a gente chorava e ficava com as malditas das "bichas", e no pior dos casos, iria numa curandeira pra benzer, aqui era na falecida Tiloca. Chega a ser engraçado o que o Capitalismo fazia (e ainda fazem) com a gente.
Hoje, ainda bem que as coisas evoluíram (de um certo modo), os brinquedos tem valores mais acessíveis, e as crianças têm mais liberdade, principalmente de escolha. Mas como um dedo leva ao braço, as crianças querem sempre mais, e se acabar cedendo, elas viram o centro do Universo em uma instituição familiar.
Anos atrás, a gente tinha mesmo uma educação mais rudimentar, mais bruta, principalmente no interior e cidades do interior. Isso se deve porque as pessoas já vieram com essa educação, não tinham conhecimento do que é o melhor e também não buscavam-o, acreditavam ser por assim, certa e ideal. A raiva de uma criança fazer algo errado não era bem aproveitada e simplesmente era transformada em alimento pra diversos objetos: chinelo, vara, tamanco, cinta, etc; que voavam, ganhavam força espetacular, desencadeando vários ferimentos no humanozinho.
Até hoje, muita gente diz que foi educada nessa base, e alguns tem a coragem de dizer que se não fossem educados dessa forma, estariam como muitos coleguinhas de infância estão no dia de hoje: envolvido em drogas, violência e/ou roubo, e pior ainda, dizem que educam seus filhos da mesma forma. Dias atrás, soube de um pai que bateu, não, surrou no seu filho de apenas 3 anos com uma corda porque ele estava batendo e incomodando sua irmãzinha de 7 anos. Por favor, né!
Antes de saber o que houve, principalmente em briga de irmãos, os pais incriminam o mais provável "criminosinho". Duas pessoas, dois lados, se houve briga é provável que os dois estejam errados, não?! Mas como violência não é sinônimo de justiça, segue-se o jogo.
O problema, caros leitores, é que tal educação de regressão é prejudicial, pois a criança aprende que algo é errado na base do medo e não do raciocínio, de saber o que é certo e o que é errado. Além disso, cria uma barreira no vínculo pais/criança, pois a inferioriza e de certa forma a humilha.
Acompanhei uma situação em que um pai estava com sua filha de aproximadamente 6 anos, e ela estava de certa forma hiperativa, além de não obedecer seu pai. Ele parou, conversou com ela reprendendo-a pela atitude, e ela chorou, mas silenciosamente, e ficou triste por um certo momento. Mas logo depois, se acalmou e voltou a sua expressão de antes e interagir normalmente com seu pai. O que não ocorreria no caso de uma "surra".
Em 2014 foi aprovada a PL 7.672/2010, com o nome de Lei Menino Bernardo, popularmente conhecida como Lei da Palmada. A então lei, foi muito discutida e houve muitas controvérsias quanto a sua promulgação, muitos pais achavam-a ridículas, e ignorantemente acreditavam que se apenas dessem um tapa na criança a lei já seria aplicada. Mas, especificamente em seu texto, está descrito que os pais ou responsáveis só serão punidos se infligirem sofrimento físico à criança ou adolescente até os 18 anos de idade.
Eu acho um absurdo a Justiça ter que intervir em casos como esses, onde os pais não têm a capacidade de educar uma criança decentemente, mas... pelo menos há uma intervenção, que espero ser eficaz. Apelar pela violência é algo ridículo, mas infelizmente é natural da índole irracional do ser humano. Para mim, é totalmente injusto inserir violência na educação de uma criança (nem que seja um tapa qualquer) somente por ser responsável por ela, e consequentemente superior, é uma regressão.
Infelizmente vejo principalmente extremos: ou educa a criança na base da violência e ele fica "calminha, obediente" ou não faz nada e cria um reizinho insuportável. Poucos são os casos em que educa-se a criança de forma evolutiva e pacífica, onde a criança é sem dúvidas um exemplo de criança.
Idolatrar uma criança como se fosse rei também um grande erro, porque além de controle da dela sobre os pais, esse ser cresce insuportavelmente mimado, mendigo de atenção e em muitos casos, dramáticos. E é horrível conviver com adultos assim, pois não aceitam a perda e não sabem lidar com ela, querem sempre atenção e fazem caso por nada. Alguns casos são mais cruéis, o serzinho se acha o centro do Universo (às vezes inclui alguém nele), e não preocupa-se com os outros, pois no mundinho dele só ele (ou mais alguém) existe e importa.
Por isso caros leitores, busquem o melhor para sua criança ou futura criança, pensem não somente no agora, mas principalmente no futuro. As consequências são visíveis em todas as escolhas, temos muitas crianças adquirindo transtornos mentais principalmente em decorrência da má educação recebida. Hoje o futuro está nas nossas mãos, mas depois, estará nas deles. Vamos evoluir?
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