sábado, 16 de julho de 2016

A posse do que você possui é sua posse?

  Diante da globalização e capitalismo em massa, nos vemos diante à mesquinhez e estupidez humana, o qual antes era tão claro, hoje, transparente.

  Acho que isso vem inicialmente da biologia do ser humano, apenas um é o espermatozoide vencedor, raras vezes dois, tão quanto, três. Na natureza animal, muitos nascem de uma só vez no ventre da fêmea, como por exemplo a gestação do gato e do cachorro, e outros diferem, dando a luz apenas um por vez, como o elefante e algumas espécies de macaco.

   Será o ser humaninho pra nascer naquele ventre quente, único e seu, alguém especial, único de cuidado e proteção? E o que nasceu antes naquele ventre ou irá vir depois, não é ou será especial também? A estadia naquele ventre o faz especial e único?

   Não acho que o ser humano não precise de cuidado e proteção, muito pelo contrário, mas às vezes as pessoas vêem outras como um ser humaninho frágil, que acabou de sair do ventre, aquele lugar aconchegante, e quando cai de cara no mundo acha que é um absurdo, como diria o grande Cazuza em uma de suas sábias canções: "Preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar seus sonhos tão mesquinhos".

   Será o fato de um ser nascer do seu ventre em contrapartida com outra pessoa, algo inédito, só de vocês, sua posse? Claramente muitos pais pensam dessa forma, sabem que o filho nasceu para o mundo, mas não agem como tal. Isso transparece principalmente na adolescência, quando o filho tenta libertar-se das amarras biológicas e viver sua vida.

   Não sei quanto ao homem, mas como mulher a experiência é engraçada. Quando você inicia uma vida amorosa com alguém, seu pai estranha, muito. Como pode sua querida filha, "frágil", estar namorando? Até que ponto a proteção dos pais seria proteção, e não posse?

   Seria algo parecido com uma frase famosa, mas em outro contexto: meu filho, minhas regras. Então a casa que os senhores casal típico brasileiro adquiriu vem acessoriamente um filho, o qual, sendo de vocês, o é fadado à regras? Infelizmente o é, até a longa estada naquela casa, na convivência familiar, ou até você mostrar que não é de fato, posse.

   Crescendo como posse, rodeado de mimos, cuidado e proteção, vemos aí crescer um ser humaninho horripilante, mesquinho, estúpido e que não sabe caminhar com os próprios pés. Cego diante de tanta luz da realidade, e morrendo de frio diante à distância do aconchego maternal, o ser busca obcecadamente outro ser que lhe dê todo o aconchego e proteção, que por ora não o mais recebe.

   Vendo aquele ser frágil e pequenino, o outro ser vê tão logo a necessidade de cuidá-lo, e a empatia é tão logo percebida que um torna-se posse do outro. É o típico: você é meu, e faz o que mando; você é o meu mundo, eu sou o seu, e o resto não importa.

  Pera aíííí! Cooomo assim o resto não importa? E o planeta Terra onde entra? E os seus outros coleguinhas ser humaninhos? Infelizmente é assim para os ser humaninhos horripilantes e mesquinhos que nasceram como o centro do Universo. E pra piorar, é um círculo vicioso, que só vai parar com a geração que tiver consciência de que aquilo é um mal horrendo à ele e principalmente à espécie.

    Fadado de mimos o ser humaninho é egoísta, o que é seu é seu, e ninguém mexe. Dividir? Balela! Ganhei as coisas só pra mim, não vou dividir com ninguém. Tive atenção só para mim, não vou dividir com ninguém.

  E assim a orla de mesquinhez só cresce. Possuindo muito sem valorizar, há desperdício, e consequentemente falta para muitos. A desigualdade social é um grande mal do sé. XXI, e isso seria a culpa do sistema o qual somos fadados a viver? Ou culpa no próprio ser humano que o segue cegamente e não vê o outro que precisa do pouco como semelhante?

   Você já parou pra pensar e analisar o que e o quanto de fato é seu, materialmente falando? E o quanto disso tem valor sentimental pra você? Você ja não tem o bastante, já não tem o suficiente? Por que mais, para impressionar alguém, para se sentir melhor, ou simplesmente ter?

   Já percebeu que tão logo você não possuir mais suas coisas, tem alguém ali ansiando por tê-las? Já percebeu que por apenas um curto espaço de tempo as coisas as quais você tem serão sua posse? É, nem tudo é seu, até sua curta estadia na Terra acabar, meu caro.

   O consumismo é um circulo vicioso. Quando você trabalha, após comprar o que de fato necessita, sobra para comprar o que você não precisa. Muitos se entopem de roupas, outros de automóveis caros, são obcecados por coisas que na realidade não representam nenhum valor sentimental e que geram lixo, tão logo se deteriorarão.

  Você não parou pra pensar que ao invés de gastar com coisas supérfluas e sem sentido, poderia gastar seu tempo e dinheiro com algo que faça sentido, como por exemplo um jardim, um instrumento musical? Investir em você, não em coisas que não o façam feliz,

   O possuir, o ter, o egoismo, a mesquinhez. O quão isso torna a pessoa horrenda! E as pessoas que mais tem esses defeitos, são as mais complicadas de lidar, pois enquanto você está passando por um momento difícil, ela vai pensar primeiramente nos seus minúsculos problemas, e ao achá-los grandes ao seu ver, esquece que o do outro é bem maior.

   Gentileza gera gentileza, já o dizia o poeta Gentileza. Mas não é tão fácil assim na prática. Gentileza é por si só um ato, que não precisamos de gratidão na palavra ou em objetos, ela está no sorriso da pessoa que o recebeu, no brilho de seus olhos, na diferença que fez naquele momento.

   E às vezes como boas pessoas acabamos por ser gentis com pessoas que não precisam, que estão literalmente cagando pelo seu ato. Mas por que não precisam? Ora, seu ato será tão supérfluo, e investido de nenhum sentimento, que a pessoa não é capaz de ver com bons olhos, o ignora e devolve o dobro em "ingentileza". Seu umbigo é tão grande que não dá para enxergar o outro.
 
   Infelizmente acontece tanto, que ao nos depararmos com pessoas gentilezas, atos gentis, é de tamanha a surpresa que chegamos a estacionar no tempo para processar o acontecimento. O fato de gentileza ser algo raro, meu caro, dói em admitir.

    Mas cá estamos, vamos ver onde tudo isso vai dar.